29 de setembro de 2009

ARTE E MANHA


Tuas formas ganham vida
Nas mãos hábeis do artista
Belos traços
Cores vivas
Quem te aspira se inspira

Na umidade que me irriga
Dedos ávidos escorregam
São meus toques
E retoques
Quem se inspira já transpira

Mãos e dedos em harmonia
Onde pouco conhecias
Dão contorno
Ao que era morno
E a ebulição ao fim do dia

Fluem então em sintonia
Artesão e poesia
Dou-te molde
Obra-prima
Meu recorte em curvas líricas

E quando o corpo se revela
A fruição nos atropela
Inebria
Delicia
A conduzida agora guia

23 de setembro de 2009

AO CAÓTICO ALIVIADO


Aqui jaz o tempo
Apodrecendo no hiato
De um infinito entreato
Você agora paira isento
Na lacuna do roteiro
Sem sorriso ou lamento
Não presenteia o mundo como antes
Já não faz do caos, uma estrela brilhante
Alheio ao porvir
Sem escolher ou preferir
Ignora a beleza de um verso parir
É covarde, é inerte
Não inova nem repete
Despe-se da vontade
Culpa a maldade
E não se lembra do que é verdade

De que é Deus do próprio tempo
De que o que procura está aí dentro
De que, um dia, a angústia parte
E essa dor
Não vira arte

21 de setembro de 2009

E ASSIM ME FAÇO



Chega a dúvida.

Por que tanta atração pelo fácil? Pelo previsível?

Por que tantos preenchedores de gaveta e tão poucos carpinteiros?

Tanto compromisso e tão pouco improviso?

Por quê?

Faço-me de desentendido, eu sei. Não porque queira essas respostas. Essas, infelizmente, eu já tenho. Já se transformaram em certeza. Coisa que, aliás, também não me atrai tanto.

Faço-me assim porque prefiro as perguntas. Sempre. E prefiro pagar o preço dessa ilusão de uma dúvida impulsionadora, pra saber que, agora, você está aí se questionando, entrando em sintonia comigo. Mesmo que esse você também já tenha suas respostas.

Vá lá. Corra atrás da sua pergunta. E não me conte a resposta. A sua resposta. Ela é sua, só sua. É um peso que você vai ter que carregar. O fim da dúvida. O fim do impulso.

Chega a angústia.

De já entender a fraqueza das pessoas. De já compreender o medo.

Chega a necessidade.

Preciso de perguntas. Preciso que me desafiem. De alguém rico em entrelinhas. De um belo e suculento ponto de interrogação em meio à imensidão de um intenso olhar. Não quero enxergar esse fundo. Não quero.

Não quero a frustração de uma fala esperada. De um carinho roteirizado. Quero um beijo provocante. Uma porrada. Aqui, bem no meio da minha alma.

Quero mais angústia. De não saber como falar. Ou escrever. Mais angústia. Pra poder brigar com ela, que tanto amo. A palavra. Maldita palavra que teima em ser essa intransponível fronteira do meu sentir.

Deixe-me ir além, maldita.

Mentira.

Sim. É mentira. Faço-me assim porque prefiro as perguntas. Sempre. É verdade. Mas, não porque prefiro pagar o preço dessa ilusão de uma dúvida impulsionadora, pra saber que, agora, você está aí se questionando, entrando em sintonia comigo.

Não, não é só isso.

Faço-me assim por um pretexto. Um pretexto de escrever e de clamar por perguntas, dúvidas, interrogações, provocações.

Chega a angústia.

De já entender a minha fraqueza. De já compreender o meu medo.

É. Faço-me assim por medo.

Por medo dela.

Da solidão.