11 de novembro de 2010

MIOPIA



Não os olhos. O olhar.
Não a cabeça. A mente.
Não o nome. O âmago.
Não o traço. O contraste.
Não a imagem. A idéia.
Não a lágrima. A dor.
Não a morte. A perda.
Não o dado. O saber.
Não a palavra. O sentido.
Não o emprego. A vocação.
Não o trabalho. A arte.
Não a revista. O manifesto.
Não o dinheiro. A fortuna.
Não a vingança. A cura.
Não o alguém. O afeto.
Não a carne. O prazer.
Não a porra. O gozo.
Não o corpo. A essência.
Não o compromisso. O amor.
O amor.

Por que não?

7 de setembro de 2010

7 DE SETEMBRO DE TODO SEMPRE



De uma bandeira
De uma fuga
De um lema
E de ternura

De pó
De cannabis
De um goró
E de Prozac

De uma carreira
De um emprego
De status
E de dinheiro

De apego
De carinho
De desejo
E de um caminho

De rumo
De certeza
De chão
E de beleza

De fé
De afeto
De uma mãe
E de um teto

De Deus
Da Ciência
Do Diabo
E de uma crença

De voto
De um padrinho
De um vice
E de um partido

De um herói
De um roteiro
De um penteado
E um marketeiro

Do iletrado
Da inocência
Do teu curral
E da carência

Da noite
Do dia
Do sonho
E a nostalgia

Do passado
Do presente
De um futuro
Para sempre

De dó
De dor
De ódio
E de rancor

De um porquê
De astúcia
De explicação
E de angústia

Da poesia
Da inspiração
De um ouvido
E um coração

De uma queda
De um tombo
Da esperança
E de um ombro

Do amor
Do tesão
De uma Maria
Ou de um João...

Celebra o que te dá força e declara tua dependência.

8 de julho de 2010

O PERSEVERANTE HÁBITO DO PUSILÂNIME




Lá fora, outro dia.
Aqui dentro, o de sempre.
Na mesa posta, indiferente,
Inércia requentada em banho-maria.

Pausa. Rotina.
Hora de lavar com choro corrente.
Nem muito frio, nem muito quente.
Mãos sujas de impulso e falsa euforia.

Cardápio. Monossilábico.
Um só prato antropofágico.
Deliciosa, preguiçosa, sabotagem.
Como de praxe, regado a vadiagem.

Abençoe, meu Eu.
Abençoe essa suculenta e suicida armadilha.
Dez. Nove. Dez.
Abençoe nossa covarde contagem regressiva.


Realmente. Lá fora, a vida rima. Melancolia. Letargia. Apatia. Lá, fora tudo rima. Numa nojenta e fria harmonia. Aqui dentro é diferente. Caos. Ironicamente, essa maldita e amada entropia.

Por que tão difícil me orgulhar?

Orgulhar-me de quê?
De ser diferente?
De pensar diferente?
De te olhar diferente?
Não, mundo. Não.
Não há coisa mais fácil do que viver diferente em ti.
Aqui dentro. Mas, e aí?

Minha pouca fé no homem foi posta à prova há tempos.
Em mim, desde sempre.

Pior do que a dor é não saber do que se sofre.
Pior do que não saber é fingir não saber.

E, lá fora, será sempre outro dia.

14 de junho de 2010

OLHOS NÚS OLHOS



Devo eu prefaciar uma lágrima?
Sim. Pergunto-me.
Não pelo desejo de uma resposta. Por puro exercício dialético.
Afinal, se há algo que eu me orgulho de ter perdido nessa vida foi medo. Um deles.
Medo de me despir diante de um mundo em compulsiva obsessão atrás desses porquês atenuadores.
Pro inferno com essa de tornar o momento em algo menor. Pro inferno.
Perdi esse medo. Há tempos.
E perdi aqui. Nos prefácios que começaram vir à tona para me salvar.
Não. Não da morte.
De uma vida morta.

Devo eu prefaciar uma lágrima?
Sempre.
Do contrário, jogo no lixo da covardia, na cova da preguiça, mais um ensejo da minha existência.
Estúpida negligência. Estúpida.
É nessa verbalizada via até o ponto final, que nossos reencontros são mais calorosos.
São verdade escancarada. Verdade encharcada. Porrada, aqui, bem no meio da minha alma.

Em cada marejada palavra refratada, eu vivo.
Morro. Renasço. Vivo.

Devo eu prefaciar uma lágrima?
Agora, ao menos, essa.

17 de março de 2010

SHALL WE ALL GO TO MONTAUK?


O quanto dos nossos encontros em vida é realmente fruto do acaso?

Bem. Antes de tudo, falo daqueles encontros com jeito de atropelamento.
Aqueles que nos jogam pro alto com a mesmíssima violência que nos fazem cair.
Avarias não mostradas na lataria, mas carregadas eternamente na lembrança.
Agradável sensação de flutuar. Esquisita de perder o chão. Dolorosa de se levantar.

Encontros e reencontros.
Serão mesmo meros eventos aleatórios?
Será que não conspiramos?
A cada dia. A cada noite. A cada fala. A cada verso.
Será?

Será que não é nosso instinto suicida que nos guia até eles?
Será que não somos nós, e só nós, na nossa nem tão inocente inconsciência, que escolhemos viver os mais deliciosos acidentes de nossa existência?

Livre arbítrio.
O maior dos presentes. O maior dos medos?





GONDRY MEETS PETRUCCI

13 de março de 2010

À SUICIDA HOMEOPÁTICA


Quando insurgirás à própria rotina?
Por que insistes em culpar teu entorno quando o verdadeiro criminoso te trucida de dentro para fora?
Essa mania idiota de acusá-lo enquanto usas disfarçado sossego ante a acomodação em cima da bengala.

Minha certeza?
Uma. Tua parceira ainda enverga.

Diga-me. Aliás, a ti.
Por que continuas infiel a quem deves o maior dos respeitos?
Essa postura covarde de deitar no colo da inércia enquanto sentes pena de ti mesma.

Meu levante?
Explico. Suicídio assistido não faz meu estilo.

Não finjas cair na inocência de julgá-lo responsável.
O maldito não é nosso, e tu bem sabes.
É teu. Teu é só teu, porque assim escolheste enxergá-lo.

Se não suportas o que vês, assume teu papel.
Assina essa obra. Reescreve teu mundo.
E a esse prólogo, licença às virgulas e ponto final.

26 de fevereiro de 2010

NOSSA GERAÇÃO


Nossa geração sofre inerte de uma síndrome maníaco-depressiva-social. Sentada num divã confortável, com uma mão na pipoca e outra no controle-remoto, tenta achar respostas em um dos 60 analistas à disposição. Ou 70 e poucos dependendo do seu pacote.
Não acha.

Nossa geração sofre diante de duas maçanetas que decoram uma mesma porta. Num “Reality Show”, esse sim real, de verdade, torce inocente para que os macaquinhos no auditório escolham o melhor prêmio. No fundo, sabe que não há um melhor.
Nem um prêmio.

Nossa geração sofre como um personagem daqueles filmes em que se dorme e acorda sempre no mesmo dia. Metalinguisticamente, observa passivamente à demissão do roteirista que existe – ou deveria existir - dentro de cada um de nós, e a delegação de plenos poderes a um diretor idiota que insiste em repetir uma cena por total falta de criatividade. Ou para agradar seus antigos produtores velhos de guerra.
Luz!(?) Câmera! Ação !(?)

Nossa geração sofre afogada em um aquário onde bóiam mentiras fétidas. Enclausurada pela densidade de discursos hipócritas, asfixiada por crenças cultivadas a ódio, paralisada de medo e pânico, tenta enxergar esperança além do horizonte refratado por toda essa podridão.
Não enxerga.

E também não enxerga a grande arma contemporânea. A arma que faz da vítima seu próprio algoz. Não enxerga que toda essa falsidade não está só nos outros, mas também ali, no reflexo do vidro. Nos próprios discursos, nas próprias crenças, no ato de se enganar dia-e-noite por medo. Por medo de sofrer ainda mais, por medo da verdade.

Silêncio...

Quando começa a reação?
A nossa?
A nossa não.
A minha. A sua reação.
Quando?


PS: Lembro-me das eleições americanas de 2004 como se fossem hoje.
Agora, você também pode escolher a sua maçaneta.

10 de fevereiro de 2010

MIND THE GAP, BABE


Por minutos, estive estático diante dessa tela. Longos minutos onde cada segundo poderia ser contado com uma história. Ou um sorriso.

Agora, escrevo com um nó na garganta. Um daqueles raros apertos que não sinto todo dia. Uma doce angústia de quem faz de tudo pra evitar a hora de dizer adeus.

Não tenho dúvidas, sabe? Se há algo bom nessa coisa de sentir saudade, fatalmente, é essa pressão que a maldita faz para que eu entenda o que se passa aqui dentro. Essa reflexão que me paralisa aos olhos do mundo, mas me faz mergulhar em movimento acelerado pra dentro de mim mesmo.

Vou te contar uma coisa. Sabe quem eu acabei de encontrar? Você, menina. Menina do sorriso fácil. Das cores incomuns. Da beleza que faz brilhar tanto os olhos do mundo. Mas, também, a menina que o mundo não vê. A menina que poucos como eu aprenderam a enxergar. Alguém onde adjetivos verbalizáveis não cabem. Simplesmente, não cabem.

Te encontrar aqui me dá um alívio. Sim. Me dá a certeza de que, aos olhos do mundo, o nosso adeus é apenas um até logo. E, aos nossos olhos, nem isso. Afinal, você vai continuar aqui. Sempre. A cada logo minuto, a cada segundo. Aqui dentro, no lugar que você tomou pra si definitivamente.

Vá com a certeza de que você conquistará seus sonhos. Porque não há nada em qualquer parte do mundo que você não seja capaz de conquistar.

Jay

18 de janeiro de 2010

DESPE TUA CAPA, SUPEREGO


Em minha boca, um desenho sobre a vida.
Na tua, o silêncio que ensurdece.
Em meu olhar, algo que não se verbaliza.
No teu, a essência flui e te enobrece.

Inunda.
Banha o ombro dessa alma nua.
Lava comigo essa realidade imunda.
Aproveita o que, hoje, ainda é só um encosto.
E me mostra o verdadeiro contorno do teu rosto.

Descubra.
Sente a beleza de te quedar desnuda.
Desiste de tentar secar o que te faz pura.
Enterra esse sorriso morto.
E renasce como no dia do teu primeiro choro.

Vive.
E pra isso, morre.
Vibra.
E pra isso, sofre.
Sorri.
E pra isso, chora.

E pra entenderes o que te fará amar,
Lê esse verso subliminar no meu olhar.

10 de janeiro de 2010

ENFIM, SINTONIA



Doída.
A madrugada cai doída.
Por que tanta espera pra te falar em poesia?

Sonhei contigo há pouco.
Um abraço de despedida.
Dividindo-nos, adivinha:
Um par de lágrimas contidas.

Ta. É mentira.
Já não eram mais contidas.
Indecisas?
Sim. Indecisas.
Não. Não mais as minhas.

Por que tanto carinho guardado pra partida?
Seria o tempo nos sublimando em agonia?

A madrugada cai doída.
Ou melhor, caía.

É, meu bem.
Gargalhemos da ironia.
Afinal, o despertar também será a melhor hora do meu dia.