18 de novembro de 2013

É




É. É mais fácil do que você pensa e mais difícil do que você pode. 

Medo é o que difere você de quem você se arrepende de não ser.

18 de julho de 2013

AOS ECOS DO LEBLON



Não, porra. O mundo não é feito de Chão ou Céu. 
Não, porra. O mundo não é feito de Preto ou Branco. 
Não, porra. O mundo não é feito de Trabalhadores ou Vagabundos.
Não, porra. O mundo não é feito de Bons ou Maus.
Não, porra. O mundo não é feito de Deus ou Diabo.
Não, porra. O mundo não é feito de Amor ou Dor.
Não, porra. O mundo não é feito de Certos ou Errados.
Não, porra. O mundo não é feito de Romantismo ou Putaria.
Não, porra. O mundo não é feito de Lado B ou Lado A.
Não, porra. O mundo não é feito de Esquerda ou Direita.
Não, porra. O mundo não é feito só de Aqui ou Ali.
Não, porra. O mundo não é feito de Nós ou Eles.

Não, porra!

O mundo somos Nós. Todos nós.
Juntos e únicos.
Em cores e tons de cinza.
Sagrados pecadores.
Virtuosos errantes.
Vivendo de ajustes e reajustes.
De caminho e construção.

Parem com a preguiçosa mania de enxergar o mundo através das lentes do maniqueísmo. Essa dualidade estúpida que a História não cansa de nos relembrar.

O mundo somos nós.E o mundo, a vida, o seu país, a sua cidade, o seu bairro, o seu povo, você e nós, Nós somos muito mais complexos do que essa impregnada e cultuada ideia de dualismo idiota.


Idiota e canalha.

28 de junho de 2013

17 DE JUNHO DE 2013

Que maravilhoso ver as tentativas frustradas de todo e qualquer partido político desse país em se apropriar do movimento. Vê-lo sem um líder é das coisas que me dá mais prazer nesse momento. Mais cedo ou mais tarde, algum certamente surgirá. Mas, que essa liderança não seja tomada por um canalha com outras aspirações. Vimos isso em 85, vimos isso em 92. E a corja ainda está aí, mais presente do que nunca.

Que triste ver gente que ainda não percebeu a importância histórica dessa entropia social, do potencial absurdo que existe nessa energia em ebulição. Movimentos não nascem prontos. Nossa democracia (negociada) não nasceu pronta há 28 anos. Vem se moldando, se aperfeiçoando. E, não perceber a evolução que esse próprio movimento já teve em apenas uma semana, é não enxergar mais do que um palmo à frente do nariz.

Que imbecilidades como “vocês já viram revolução sem destruição?” não sejam mal interpretadas ou mal proferidas. Não confundam destruição com vandalismo. A destruição deve ser de paradigmas, do status quo, não do meu, do seu, do nosso patrimônio público, idiotas. Há décadas atrás, um indiano nos mostrou que uma revolução pacífica é mais do que possível. É mais forte e duradoura, pois ela transforma de dentro pra fora. Transforma mentes, comportamentos.

Que a evolução do movimento continue. Que, agora, canalizemos nossas energias, nosso protesto a questões tangíveis. Primeiro, que a corja não tenha a coragem de aprovar a PEC37 no fim desse mês, dando uma prova que esse não pode ser mais o país da impunidade. Depois, a próxima. E assim por diante.

Que, em paralelo a isso, entre de uma vez por todas nas nossas cabeças que o maior passo será dado com a Reforma Política. É preciso de informação e muito debate até isso acontecer. Mas que esse assunto entre definitivamente no dia a dia do brasileiro.

E, principalmente, que a revolução não seja encarada apenas como uma mudança do comportamento dos nossos governantes. Que ela se estenda aos atos cotidianos de cada um de nós. Que seja uma revolução de costumes, uma revolução cultural. Que o brasileiro entenda que dar propina a policial ou a fiscal de qualquer merda é crime. Que falsificar carteirinha de estudante é crime. Que furar toda e qualquer fila é uma canalhice com o próximo. Que fechar cruzamento com seu carro pelo motivo que for é sua contribuição para o caos urbano.

É preciso sentir vergonha do jeitinho brasileiro. É preciso entender, cidadão, que o seu “pequeno” crime ou sua “pequena” canalhice não é diferente do “grande” crime ou da “grande” canalhice do seu governante. Essa é apenas uma questão de acesso.

Provemos que o Brasil pode ser um país diferente quando colocarmos o pé na rua desse dia 18 de junho de 2013.

18 de março de 2011

CONFIA




Se o azul do mar já não se confunde com o do céu
Se a vista da janela hoje tem gosto de fel
E o existir é só representar mais um papel

Confia tua mão, meu bem
Junto a ti, provarei de um novo mel

Se as paredes insistem em se aproximar
Se o travesseiro é o ombro pra chorar
E o dia não tem razão para acordar

Confia tua mão, meu bem
Junto a ti, enxugarei o nosso lar

Se o som que escutas não é a trilha que eu faria
Se o cantar já perdeu a melodia
E o teu viver outrora eu coloria

Confia tua mão, meu bem
Junto a ti, pintarei um belo dia

E quando o calor de nosso enlace
Comprovar a sintonia

Confia teu coração, meu bem
Confia

11 de novembro de 2010

MIOPIA



Não os olhos. O olhar.
Não a cabeça. A mente.
Não o nome. O âmago.
Não o traço. O contraste.
Não a imagem. A idéia.
Não a lágrima. A dor.
Não a morte. A perda.
Não o dado. O saber.
Não a palavra. O sentido.
Não o emprego. A vocação.
Não o trabalho. A arte.
Não a revista. O manifesto.
Não o dinheiro. A fortuna.
Não a vingança. A cura.
Não o alguém. O afeto.
Não a carne. O prazer.
Não a porra. O gozo.
Não o corpo. A essência.
Não o compromisso. O amor.
O amor.

Por que não?

7 de setembro de 2010

7 DE SETEMBRO DE TODO SEMPRE



De uma bandeira
De uma fuga
De um lema
E de ternura

De pó
De cannabis
De um goró
E de Prozac

De uma carreira
De um emprego
De status
E de dinheiro

De apego
De carinho
De desejo
E de um caminho

De rumo
De certeza
De chão
E de beleza

De fé
De afeto
De uma mãe
E de um teto

De Deus
Da Ciência
Do Diabo
E de uma crença

De voto
De um padrinho
De um vice
E de um partido

De um herói
De um roteiro
De um penteado
E um marketeiro

Do iletrado
Da inocência
Do teu curral
E da carência

Da noite
Do dia
Do sonho
E a nostalgia

Do passado
Do presente
De um futuro
Para sempre

De dó
De dor
De ódio
E de rancor

De um porquê
De astúcia
De explicação
E de angústia

Da poesia
Da inspiração
De um ouvido
E um coração

De uma queda
De um tombo
Da esperança
E de um ombro

Do amor
Do tesão
De uma Maria
Ou de um João...

Celebra o que te dá força e declara tua dependência.

8 de julho de 2010

O PERSEVERANTE HÁBITO DO PUSILÂNIME




Lá fora, outro dia.
Aqui dentro, o de sempre.
Na mesa posta, indiferente,
Inércia requentada em banho-maria.

Pausa. Rotina.
Hora de lavar com choro corrente.
Nem muito frio, nem muito quente.
Mãos sujas de impulso e falsa euforia.

Cardápio. Monossilábico.
Um só prato antropofágico.
Deliciosa, preguiçosa, sabotagem.
Como de praxe, regado a vadiagem.

Abençoe, meu Eu.
Abençoe essa suculenta e suicida armadilha.
Dez. Nove. Dez.
Abençoe nossa covarde contagem regressiva.


Realmente. Lá fora, a vida rima. Melancolia. Letargia. Apatia. Lá, fora tudo rima. Numa nojenta e fria harmonia. Aqui dentro é diferente. Caos. Ironicamente, essa maldita e amada entropia.

Por que tão difícil me orgulhar?

Orgulhar-me de quê?
De ser diferente?
De pensar diferente?
De te olhar diferente?
Não, mundo. Não.
Não há coisa mais fácil do que viver diferente em ti.
Aqui dentro. Mas, e aí?

Minha pouca fé no homem foi posta à prova há tempos.
Em mim, desde sempre.

Pior do que a dor é não saber do que se sofre.
Pior do que não saber é fingir não saber.

E, lá fora, será sempre outro dia.

14 de junho de 2010

OLHOS NÚS OLHOS



Devo eu prefaciar uma lágrima?
Sim. Pergunto-me.
Não pelo desejo de uma resposta. Por puro exercício dialético.
Afinal, se há algo que eu me orgulho de ter perdido nessa vida foi medo. Um deles.
Medo de me despir diante de um mundo em compulsiva obsessão atrás desses porquês atenuadores.
Pro inferno com essa de tornar o momento em algo menor. Pro inferno.
Perdi esse medo. Há tempos.
E perdi aqui. Nos prefácios que começaram vir à tona para me salvar.
Não. Não da morte.
De uma vida morta.

Devo eu prefaciar uma lágrima?
Sempre.
Do contrário, jogo no lixo da covardia, na cova da preguiça, mais um ensejo da minha existência.
Estúpida negligência. Estúpida.
É nessa verbalizada via até o ponto final, que nossos reencontros são mais calorosos.
São verdade escancarada. Verdade encharcada. Porrada, aqui, bem no meio da minha alma.

Em cada marejada palavra refratada, eu vivo.
Morro. Renasço. Vivo.

Devo eu prefaciar uma lágrima?
Agora, ao menos, essa.

17 de março de 2010

SHALL WE ALL GO TO MONTAUK?


O quanto dos nossos encontros em vida é realmente fruto do acaso?

Bem. Antes de tudo, falo daqueles encontros com jeito de atropelamento.
Aqueles que nos jogam pro alto com a mesmíssima violência que nos fazem cair.
Avarias não mostradas na lataria, mas carregadas eternamente na lembrança.
Agradável sensação de flutuar. Esquisita de perder o chão. Dolorosa de se levantar.

Encontros e reencontros.
Serão mesmo meros eventos aleatórios?
Será que não conspiramos?
A cada dia. A cada noite. A cada fala. A cada verso.
Será?

Será que não é nosso instinto suicida que nos guia até eles?
Será que não somos nós, e só nós, na nossa nem tão inocente inconsciência, que escolhemos viver os mais deliciosos acidentes de nossa existência?

Livre arbítrio.
O maior dos presentes. O maior dos medos?





GONDRY MEETS PETRUCCI

13 de março de 2010

À SUICIDA HOMEOPÁTICA


Quando insurgirás à própria rotina?
Por que insistes em culpar teu entorno quando o verdadeiro criminoso te trucida de dentro para fora?
Essa mania idiota de acusá-lo enquanto usas disfarçado sossego ante a acomodação em cima da bengala.

Minha certeza?
Uma. Tua parceira ainda enverga.

Diga-me. Aliás, a ti.
Por que continuas infiel a quem deves o maior dos respeitos?
Essa postura covarde de deitar no colo da inércia enquanto sentes pena de ti mesma.

Meu levante?
Explico. Suicídio assistido não faz meu estilo.

Não finjas cair na inocência de julgá-lo responsável.
O maldito não é nosso, e tu bem sabes.
É teu. Teu é só teu, porque assim escolheste enxergá-lo.

Se não suportas o que vês, assume teu papel.
Assina essa obra. Reescreve teu mundo.
E a esse prólogo, licença às virgulas e ponto final.

26 de fevereiro de 2010

NOSSA GERAÇÃO


Nossa geração sofre inerte de uma síndrome maníaco-depressiva-social. Sentada num divã confortável, com uma mão na pipoca e outra no controle-remoto, tenta achar respostas em um dos 60 analistas à disposição. Ou 70 e poucos dependendo do seu pacote.
Não acha.

Nossa geração sofre diante de duas maçanetas que decoram uma mesma porta. Num “Reality Show”, esse sim real, de verdade, torce inocente para que os macaquinhos no auditório escolham o melhor prêmio. No fundo, sabe que não há um melhor.
Nem um prêmio.

Nossa geração sofre como um personagem daqueles filmes em que se dorme e acorda sempre no mesmo dia. Metalinguisticamente, observa passivamente à demissão do roteirista que existe – ou deveria existir - dentro de cada um de nós, e a delegação de plenos poderes a um diretor idiota que insiste em repetir uma cena por total falta de criatividade. Ou para agradar seus antigos produtores velhos de guerra.
Luz!(?) Câmera! Ação !(?)

Nossa geração sofre afogada em um aquário onde bóiam mentiras fétidas. Enclausurada pela densidade de discursos hipócritas, asfixiada por crenças cultivadas a ódio, paralisada de medo e pânico, tenta enxergar esperança além do horizonte refratado por toda essa podridão.
Não enxerga.

E também não enxerga a grande arma contemporânea. A arma que faz da vítima seu próprio algoz. Não enxerga que toda essa falsidade não está só nos outros, mas também ali, no reflexo do vidro. Nos próprios discursos, nas próprias crenças, no ato de se enganar dia-e-noite por medo. Por medo de sofrer ainda mais, por medo da verdade.

Silêncio...

Quando começa a reação?
A nossa?
A nossa não.
A minha. A sua reação.
Quando?


PS: Lembro-me das eleições americanas de 2004 como se fossem hoje.
Agora, você também pode escolher a sua maçaneta.

10 de fevereiro de 2010

MIND THE GAP, BABE


Por minutos, estive estático diante dessa tela. Longos minutos onde cada segundo poderia ser contado com uma história. Ou um sorriso.

Agora, escrevo com um nó na garganta. Um daqueles raros apertos que não sinto todo dia. Uma doce angústia de quem faz de tudo pra evitar a hora de dizer adeus.

Não tenho dúvidas, sabe? Se há algo bom nessa coisa de sentir saudade, fatalmente, é essa pressão que a maldita faz para que eu entenda o que se passa aqui dentro. Essa reflexão que me paralisa aos olhos do mundo, mas me faz mergulhar em movimento acelerado pra dentro de mim mesmo.

Vou te contar uma coisa. Sabe quem eu acabei de encontrar? Você, menina. Menina do sorriso fácil. Das cores incomuns. Da beleza que faz brilhar tanto os olhos do mundo. Mas, também, a menina que o mundo não vê. A menina que poucos como eu aprenderam a enxergar. Alguém onde adjetivos verbalizáveis não cabem. Simplesmente, não cabem.

Te encontrar aqui me dá um alívio. Sim. Me dá a certeza de que, aos olhos do mundo, o nosso adeus é apenas um até logo. E, aos nossos olhos, nem isso. Afinal, você vai continuar aqui. Sempre. A cada logo minuto, a cada segundo. Aqui dentro, no lugar que você tomou pra si definitivamente.

Vá com a certeza de que você conquistará seus sonhos. Porque não há nada em qualquer parte do mundo que você não seja capaz de conquistar.

Jay

18 de janeiro de 2010

DESPE TUA CAPA, SUPEREGO


Em minha boca, um desenho sobre a vida.
Na tua, o silêncio que ensurdece.
Em meu olhar, algo que não se verbaliza.
No teu, a essência flui e te enobrece.

Inunda.
Banha o ombro dessa alma nua.
Lava comigo essa realidade imunda.
Aproveita o que, hoje, ainda é só um encosto.
E me mostra o verdadeiro contorno do teu rosto.

Descubra.
Sente a beleza de te quedar desnuda.
Desiste de tentar secar o que te faz pura.
Enterra esse sorriso morto.
E renasce como no dia do teu primeiro choro.

Vive.
E pra isso, morre.
Vibra.
E pra isso, sofre.
Sorri.
E pra isso, chora.

E pra entenderes o que te fará amar,
Lê esse verso subliminar no meu olhar.

10 de janeiro de 2010

ENFIM, SINTONIA



Doída.
A madrugada cai doída.
Por que tanta espera pra te falar em poesia?

Sonhei contigo há pouco.
Um abraço de despedida.
Dividindo-nos, adivinha:
Um par de lágrimas contidas.

Ta. É mentira.
Já não eram mais contidas.
Indecisas?
Sim. Indecisas.
Não. Não mais as minhas.

Por que tanto carinho guardado pra partida?
Seria o tempo nos sublimando em agonia?

A madrugada cai doída.
Ou melhor, caía.

É, meu bem.
Gargalhemos da ironia.
Afinal, o despertar também será a melhor hora do meu dia.

11 de dezembro de 2009

TUA FÉ



Tua fé lhes dá alívio.
Tua fé lhes dá consolo.
Tua fé te dá conforto.
Tua fé lhes dá ou tira?

Tua fé promete abrigo.
Tua fé me dói o ouvido.
Tua fé expõe minha ira.
Tua fé te dá e tira.

Tua fé é uma mentira.
Essa fétida mentira.

11 de novembro de 2009

AS LUZES DE UM ENSAIO


O disco amarelo iluminou-se.

Sim. Nessa versão do nosso mundo, também se iluminou. Lá onde quase ninguém olha. Onde o que se acredita ser humano diz que foca, mas, no fundo, nem tão fundo, bate o olho e ignora. Pois, se pudesse olhar, veria. Se pudesse ver, repararia. Lá onde ponto cego é borrão em abundância. Onde o tonto se perde, na bruma de sua própria ignorância. Pois, se pudesse achar, teria. Se pudesse ter, dividiria. O disco amarelo iluminou-se. Sim. Nessa versão do nosso mundo, também se iluminou. Todavia, da ocasião, o desatento passa ao largo. Um uníssono brado. Apagou.

Ele sopra ao meu ouvido. Meu conformismo se apaga, uma chama acende. Magia? Não. Não é preciso de magia para um sopro invadir a janela da minha alma. Ele é mais que um mago. Ele é muito mais que o mago. Ele sopra ao meu ouvido. Um vendaval versado em raro linguajar disparatado. Escreve sobre as retinas do meu peito o doloroso contorno moral de um mundo devastado. Seu mundo. Meu mundo. Nossos mundos. Territórios assolados por outros vendavais tão análogos. Não à toa, temos punhos e corações acelerados. Angustiados. Como seu alter ego que tudo vê, ouço pela janela a degradação dos meus coadjuvantes. Todo o excremento do que se acredita ser humano vindo à tona de um modo instantâneo e arrasador jamais visto antes. Mais que um desastre natural. Como se isso não fosse natural... Ouço pela janela porque não posso olhar. Digo que não posso, mas, no fundo, nem tão fundo, digo porque não quero olhar. Pois, se pudesse olhar, veria. Se pudesse ver, repararia. Amarga ilusão. Não dá mais. Olho. Vejo. Reparo.

Sim. Olho. Vejo. Reparo. A barbárie aflorando em um sem número de esquinas da cidade. Do meu mundo que não aprende com a idade. Flores espinhosas que quase cortam minha alma fora. Poucas vezes, a noite foi tão silenciosamente estrondosa. Poucas vezes, luz, som e suas ausências foram tão contraditórios. Contraditórios. Contraditórios. Contraditórios. Contraditórios. Contraditórios. Contraditórios. Silêncio. Hiato. O panóptico do sábio. Sim. Olho. Vejo. Reparo. Reparo-me. Reparo o mundo outra vez. E me reparo. Onde há espinhos, há pétalas. Delicadas ou não, pétalas. Pétalas que parecem florescer mais fortes em meio às trevas. Banhadas de afeto, de solidariedade, de benevolência pura ao seu coadjuvante. Seus coadjuvantes. No meio do crepúsculo, alguns puderam achar. Se achar. E aquele que se acha, tem. Aquele que tem, divide.

Lembra-me o sopro que somente num mundo de cegos é que as coisas são o que verdadeiramente são. A clareza dos antagonismos emerge. Eles coexistem.

Sim. Realmente, são.

As luzes se acendem. Baixo meus olhos.

A cidade ainda está aqui.




PS: dedicado a José Saramago e Fernando Meirelles que me brindaram com os contornos do seu mundo, poucas horas antes da minha escuridão. Da nossa escuridão.

10 de novembro de 2009

SILÊNCIO


Hiato entre o calar
...
E o falar

Panóptico do sábio
Refúgio do covarde
No silêncio
...
Eu meedito

30 de outubro de 2009

O PREÇO DO AVESSO


Sou o berro do criado-mudo
A soberba de quem criou o mundo
A conversa que logo desconverso
Um verso de cabeceira engavetado

Sou o erro bem intencionado
A tensão e o tesão da puberdade
A verdade que há na sacanagem
Um ato só em minha própria homenagem

Sou o veto à voz do viva voz
A censura doce no talvez de meus avós
A tradição e a contradição dentro de mim
Um não azedo que hesita em gritar sim

Sou o sol que se recusa a ser menor
A luz que apaga, mas insiste no “acorde!”
Meio Tom, meio Jerry, mil metades
Um suicida quando caço sem dó ou piedade

Sim
Não sou santo, nem encanto
Nada além do tanto quanto canto
E, no meu canto, prendo o pranto
Enquanto conto o que restou
De mim

13 de outubro de 2009

DOCE LAR




Estranho.
Como assim, tão de repente, me ameaça de voltar? Dias de ignorância, noites de rejeição. Anos de desprezo e vem bater à minha porta, agora, pedindo para entrar?
Bate. E bate forte. Cada vez mais forte.
Corte.

Estranho-a.
Diz-me então. Por acaso. Lembra bem o quanto sou difícil de lidar? Dias de alegria, noites de aflição. Lembra de quantas e quantas vezes deixamos outros a chorar?
Não. Não é acaso. É claro.
Ocaso.

Não é mais claro. Nada é mais claro.
O crepúsculo das minhas certezas me confunde. Você me confunde.
Sem rosto. Sem nome. Sem cautela.
Sem prudência. Minha Querida Prudência que, finalmente, sai para brincar.
Ninguém lhe conhece. Apenas eu. Só e somente eu.

Estranho-me.
Você me confunde.
E se funde. A mim. Aos meus dias, às minhas noites, à minha porta.
Nossa porta.
Bata à nossa porta. Forte. Mais forte.
Bata e me faça lembrar. Calar. Olhar.
Como é bom lembrar.

Não sei se a quero. Só sei que quero.
Você. Minha infiel companheira. Minha mais seca lamúria.
Recém desperta.
Angústia.

12 de outubro de 2009

NOSSAS CORES



O amarelo que vês é o amarelo que vejo?
E teu branco?
E teu preto?
O teu tudo tem cor e o teu nada é branco?
Ou o branco é nada e tudo é preto?

Entender nossas visões foi sempre difícil.
Teu choro era azul
Em belos olhos verdes.
Meu sorriso era vermelho
Em lábios que matavam tua sede.

Nós somos dois, não somos um.
Escolhe a tua cor, que eu escolho a minha.
Pinta tua noite, que eu pinto o meu dia.
Porque, amanhã, nossa história continua a ser contada na parede da vida.

NOVO DIA, NOVAS CORES



Mais um dia vai chegar
Dia de retocar a tal parede
De relembrar a nossa sede
De reencontrar e enxergar
Como brilhará o que era verde

Mais um dia vai chegar
E o que terá mudado em teu olhar?

Em ambos

No teu verbo
Teimoso em interpretar
E no teu substantivo
Razão de, um dia, por ti,
Eu me apaixonar

Mais um dia vai chegar
E que cor avivará o teu chorar?
Secaremos aquele azul angustiante?
Transformá-lo-emos em algo cambiante?
Ou continuaremos repetindo como antes?

Mais um dia vai chegar
E as respostas
Como as cores
Esse dia vai nos dar

6 de outubro de 2009

12 DE OUTUBRO


Outro dia, uma pergunta surgiu.
“Por que, quando crianças, o viver nos parece mais intenso e verdadeiro?”.

Primeiramente, porque, quando crianças, a nostalgia não existe. Afinal, fica difícil nos apegarmos às poucas memórias passadas que mal conseguimos gravar.

Além disso, não atrelamos nossa felicidade às projeções feitas para dias que virão. Ou seja, não vivemos (“existimos”? ) de expectativas, de conjecturas.

Quando crianças, nosso foco está no nosso presente, no dia que estamos vivendo. Não perdemos tempo nos lamentando por hoje não ser como ontem, nem divagando sobre a possibilidade de amanhã ser melhor do que hoje. Simplesmente, nos esforçamos para fazer do agora o melhor momento de nossas vidas.

E nós, presunçosos que somos, ainda tentamos ensiná-las como crescer.

29 de setembro de 2009

ARTE E MANHA


Tuas formas ganham vida
Nas mãos hábeis do artista
Belos traços
Cores vivas
Quem te aspira se inspira

Na umidade que me irriga
Dedos ávidos escorregam
São meus toques
E retoques
Quem se inspira já transpira

Mãos e dedos em harmonia
Onde pouco conhecias
Dão contorno
Ao que era morno
E a ebulição ao fim do dia

Fluem então em sintonia
Artesão e poesia
Dou-te molde
Obra-prima
Meu recorte em curvas líricas

E quando o corpo se revela
A fruição nos atropela
Inebria
Delicia
A conduzida agora guia

23 de setembro de 2009

AO CAÓTICO ALIVIADO


Aqui jaz o tempo
Apodrecendo no hiato
De um infinito entreato
Você agora paira isento
Na lacuna do roteiro
Sem sorriso ou lamento
Não presenteia o mundo como antes
Já não faz do caos, uma estrela brilhante
Alheio ao porvir
Sem escolher ou preferir
Ignora a beleza de um verso parir
É covarde, é inerte
Não inova nem repete
Despe-se da vontade
Culpa a maldade
E não se lembra do que é verdade

De que é Deus do próprio tempo
De que o que procura está aí dentro
De que, um dia, a angústia parte
E essa dor
Não vira arte

21 de setembro de 2009

E ASSIM ME FAÇO



Chega a dúvida.

Por que tanta atração pelo fácil? Pelo previsível?

Por que tantos preenchedores de gaveta e tão poucos carpinteiros?

Tanto compromisso e tão pouco improviso?

Por quê?

Faço-me de desentendido, eu sei. Não porque queira essas respostas. Essas, infelizmente, eu já tenho. Já se transformaram em certeza. Coisa que, aliás, também não me atrai tanto.

Faço-me assim porque prefiro as perguntas. Sempre. E prefiro pagar o preço dessa ilusão de uma dúvida impulsionadora, pra saber que, agora, você está aí se questionando, entrando em sintonia comigo. Mesmo que esse você também já tenha suas respostas.

Vá lá. Corra atrás da sua pergunta. E não me conte a resposta. A sua resposta. Ela é sua, só sua. É um peso que você vai ter que carregar. O fim da dúvida. O fim do impulso.

Chega a angústia.

De já entender a fraqueza das pessoas. De já compreender o medo.

Chega a necessidade.

Preciso de perguntas. Preciso que me desafiem. De alguém rico em entrelinhas. De um belo e suculento ponto de interrogação em meio à imensidão de um intenso olhar. Não quero enxergar esse fundo. Não quero.

Não quero a frustração de uma fala esperada. De um carinho roteirizado. Quero um beijo provocante. Uma porrada. Aqui, bem no meio da minha alma.

Quero mais angústia. De não saber como falar. Ou escrever. Mais angústia. Pra poder brigar com ela, que tanto amo. A palavra. Maldita palavra que teima em ser essa intransponível fronteira do meu sentir.

Deixe-me ir além, maldita.

Mentira.

Sim. É mentira. Faço-me assim porque prefiro as perguntas. Sempre. É verdade. Mas, não porque prefiro pagar o preço dessa ilusão de uma dúvida impulsionadora, pra saber que, agora, você está aí se questionando, entrando em sintonia comigo.

Não, não é só isso.

Faço-me assim por um pretexto. Um pretexto de escrever e de clamar por perguntas, dúvidas, interrogações, provocações.

Chega a angústia.

De já entender a minha fraqueza. De já compreender o meu medo.

É. Faço-me assim por medo.

Por medo dela.

Da solidão.