30 de outubro de 2009

O PREÇO DO AVESSO


Sou o berro do criado-mudo
A soberba de quem criou o mundo
A conversa que logo desconverso
Um verso de cabeceira engavetado

Sou o erro bem intencionado
A tensão e o tesão da puberdade
A verdade que há na sacanagem
Um ato só em minha própria homenagem

Sou o veto à voz do viva voz
A censura doce no talvez de meus avós
A tradição e a contradição dentro de mim
Um não azedo que hesita em gritar sim

Sou o sol que se recusa a ser menor
A luz que apaga, mas insiste no “acorde!”
Meio Tom, meio Jerry, mil metades
Um suicida quando caço sem dó ou piedade

Sim
Não sou santo, nem encanto
Nada além do tanto quanto canto
E, no meu canto, prendo o pranto
Enquanto conto o que restou
De mim

2 comentários:

Unknown disse...

E o que seria de nós sem nossas contradições, nosso avesso? Seus versos traduzem essa angústia e tdo que isso exige (benza Deus!!rs) em termos de des/reconstrução....Adorei...

"E por que que minhas sensações se revezam tão depressa?
Eu, enfim que sou um diálogo contínuo,
Um falar alto incompreensível, alta-noite na torre quando os sinos oscilam vagamente sem que mão lhes toque..." (Fernando Pessoa)

chayenne f. disse...

Mesmo não sendo a maior parte do tempo fã de poemas em geral, sou incapaz de dizer que não gostei dos seus. Estou encantada, estatelada, extasiada.
Desculpe a minha falta de jeito e palavras e sinta-se sinceramente elogiado.
:)