8 de julho de 2010

O PERSEVERANTE HÁBITO DO PUSILÂNIME




Lá fora, outro dia.
Aqui dentro, o de sempre.
Na mesa posta, indiferente,
Inércia requentada em banho-maria.

Pausa. Rotina.
Hora de lavar com choro corrente.
Nem muito frio, nem muito quente.
Mãos sujas de impulso e falsa euforia.

Cardápio. Monossilábico.
Um só prato antropofágico.
Deliciosa, preguiçosa, sabotagem.
Como de praxe, regado a vadiagem.

Abençoe, meu Eu.
Abençoe essa suculenta e suicida armadilha.
Dez. Nove. Dez.
Abençoe nossa covarde contagem regressiva.


Realmente. Lá fora, a vida rima. Melancolia. Letargia. Apatia. Lá, fora tudo rima. Numa nojenta e fria harmonia. Aqui dentro é diferente. Caos. Ironicamente, essa maldita e amada entropia.

Por que tão difícil me orgulhar?

Orgulhar-me de quê?
De ser diferente?
De pensar diferente?
De te olhar diferente?
Não, mundo. Não.
Não há coisa mais fácil do que viver diferente em ti.
Aqui dentro. Mas, e aí?

Minha pouca fé no homem foi posta à prova há tempos.
Em mim, desde sempre.

Pior do que a dor é não saber do que se sofre.
Pior do que não saber é fingir não saber.

E, lá fora, será sempre outro dia.

Um comentário:

Priscila Lima disse...

as vezes permaneço em situações opostas. "lá fora... aqui dentro..." parecem pessoas diferentes, sensações diferentes demais. tô indo pra mais um desses encontros dos quais não se sabe o que esperar. parece que tenho confundido essas sensações de dentro e de fora. sabe quando se tem medo de reencontrar alguém? pois é. medo absurdo. tô procurando o sentido disso.

sempre boas leituras por aqui.
algumas sensações onde também de reconheço. isso é bom. imagino. rsrs

e comentários extensos esses meus. rsrs

até logo. =)