
Sou o berro do criado-mudo
A soberba de quem criou o mundo
A conversa que logo desconverso
Um verso de cabeceira engavetado
Sou o erro bem intencionado
A tensão e o tesão da puberdade
A verdade que há na sacanagem
Um ato só em minha própria homenagem
Sou o veto à voz do viva voz
A censura doce no talvez de meus avós
A tradição e a contradição dentro de mim
Um não azedo que hesita em gritar sim
Sou o sol que se recusa a ser menor
A luz que apaga, mas insiste no “acorde!”
Meio Tom, meio Jerry, mil metades
Um suicida quando caço sem dó ou piedade
Sim
Não sou santo, nem encanto
Nada além do tanto quanto canto
E, no meu canto, prendo o pranto
Enquanto conto o que restou
De mim