Chega a dúvida.
Por que tanta atração pelo fácil? Pelo previsível?
Por que tantos preenchedores de gaveta e tão poucos carpinteiros?
Tanto compromisso e tão pouco improviso?
Por quê?
Faço-me de desentendido, eu sei. Não porque queira essas respostas. Essas, infelizmente, eu já tenho. Já se transformaram em certeza. Coisa que, aliás, também não me atrai tanto.
Faço-me assim porque prefiro as perguntas. Sempre. E prefiro pagar o preço dessa ilusão de uma dúvida impulsionadora, pra saber que, agora, você está aí se questionando, entrando em sintonia comigo. Mesmo que esse você também já tenha suas respostas.
Vá lá. Corra atrás da sua pergunta. E não me conte a resposta. A sua resposta. Ela é sua, só sua. É um peso que você vai ter que carregar. O fim da dúvida. O fim do impulso.
Chega a angústia.
De já entender a fraqueza das pessoas. De já compreender o medo.
Chega a necessidade.
Preciso de perguntas. Preciso que me desafiem. De alguém rico em entrelinhas. De um belo e suculento ponto de interrogação em meio à imensidão de um intenso olhar. Não quero enxergar esse fundo. Não quero.
Não quero a frustração de uma fala esperada. De um carinho roteirizado. Quero um beijo provocante. Uma porrada. Aqui, bem no meio da minha alma.
Quero mais angústia. De não saber como falar. Ou escrever. Mais angústia. Pra poder brigar com ela, que tanto amo. A palavra. Maldita palavra que teima em ser essa intransponível fronteira do meu sentir.
Deixe-me ir além, maldita.
Mentira.
Sim. É mentira. Faço-me assim porque prefiro as perguntas. Sempre. É verdade. Mas, não porque prefiro pagar o preço dessa ilusão de uma dúvida impulsionadora, pra saber que, agora, você está aí se questionando, entrando em sintonia comigo.
Não, não é só isso.
Faço-me assim por um pretexto. Um pretexto de escrever e de clamar por perguntas, dúvidas, interrogações, provocações.
Chega a angústia.
De já entender a minha fraqueza. De já compreender o meu medo.
É. Faço-me assim por medo.
Por medo dela.
Da solidão.